Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











quinta-feira, maio 04, 2006

Pedreira dos Húngaros, Bairro Negro

Volta e meia acontecem coisas curiosas. Ontem, recebi um e-mail de uma pessoa, devidamente identificada mas que não conheço, um leitor deste blog. Escreveu-me para “saber se por ventura existe alguma possibilidade de poder adquirir a reportagem completa que fez sobre o bairro negro, a tal reportagem de 1984, com o seu colega Mario Lindofo, na já desaparecida Pedreira dos Húngaros "meu pais de nascença".. No ano que foi feita essa reportagem entrei eu na escola, tinha na altura 6 anos, neste momento tenho 28 anos casado e duas filhas... não vivo numa barraca de 50 contos, mas sei o que é isso... pois vivi durante a minha infância e durante a minha juventude… e é muito diferente daquilo que vemos nos Morangos com Açúcar. Por isso tudo que fosse recordação desse pequeno "país" eu gostaria de "coleccionar" principalmente para que as minhas filhas, sejam elas o que vierem a ser, se lembrarem que começaram numa barraca de 50 contos, isolada da sociedade, como uma doença em quarentena...” É este o teor essencial da mensagem e que me enterneceu. Pela determinação que revela, por demonstrar que é possível sair por cima de sítios daqueles. Conforme já respondi a este senhor, a reportagem em questão está incluída numa colectânea que pode ser adquirida, segundo julgo, no Sindicato dos Jornalistas, aqui em Lisboa, na Rua Duques de Bragança, ali ao Chiado.

6 comentários:

125_azul disse...

Capacidade de resiliência, palavra feia para designar a força de quem levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima. Pena. São tão poucos. Bom, já há um...

LM disse...

A esperança e a capacidade de resistência nunca morrem.
Às vezes enfraquecem, mas nunca morrem.

Anónimo disse...

Há já uns bons anos, dei aulas numa escola dos arredores de Cascais. Tive uma aluna negra que vivia numa barraca, no bairro do Fim do Mundo, que me deu um exemplo enorme de persistência e de coragem. O pai era alcoólico, a mãe fazia limpezas e eram 5 ou 6 filhos. Dificuldades imensas e condições nenhumas. Ela, em todos os intervalos e furos, estudava e/ou fazia os tpc. Um dia perguntei-lhe porque não se juntava ao resto da turma ou se havia algum problema. Ela respondeu-me que não existia qualquer problema na escola, só que não tinha luz em casa e tinha que se despachar porque não tinha possibilidade de estudar a seguir às aulas. Em casa tinha que ajudar nas tarefas, era uma das mais velhas. E como queria ir para Medicina tinha que aproveitar todos os momentos. Aquela menina tinha notas óptimas e entrou na Faculdade. Impressionou-me muito aquela luta estrénua por um futuro melhor e uma tão grande coragem.

aRMAS disse...

Para máquina zero,

compare o estado em que Portugal está, com o estado dos países de origem dos outros emigrantes que mencionou.

Houve filhos de emigrantes portugueses que realmente se integraram de tal modo que hoje são franceses. Devem também haver alguns que acabaram perdidos. Mas se calhar a maioria regressou, ou divide-se entre um país e outro. Ou seja, Portugal não deixou de ser uma alternativa para eles.
Já muitos dos que vieram de África talvez não tenham essa possibilidade.

Para além disso acho que é óbvio que culturalmente estamos mais próximos dos franceses que os africanos.
Convivemos na "mesma" Europa há centenas de anos. As duas línguas provêm do latim. Ambos os países são de maioria católica. E em termos de aparência também somos mais parecidos com eles, que os africanos.

Isabela Figueiredo disse...

É um final feliz, para mim.
Conheço muitos miúdos e miúdas que escaparam ao bairro de lata e à criminalidade. Outros não. A maior parte dos alunos negros sempre teve muitas dificuldades materiais e outras; mas eram, normalmente, alunos mais esforçados, bem educados. Alguns tornaram-se drug dealers e toxicodependentes, outros fizeram a escola toda e arranjaram trabalhos dignos ou foram para a faculdade e estão hoje muito bem.
Quando a escola consegue agarrar miúdos do bairro da lata em situação de risco, quando se sentem bem na escola, não a largarão. A escola também é um lugar de afecto que substiui outros lugares onde o afecto é menos possível. As pessoas precisam de ser abraçadas, e na escola também se abraça.
Tenho sérias dúvidas que os portugueses tenham mais a ver com os franceses, porque são da Europa e falam um idioma românico. Eu tenho muito mais a ver com África do que com França.
E o bairro da lata não é só uma questão de imigrantes.
Quem vem trabalhar por 300 euros precisa deles para comer e pagar o transporte para o trabalho. A casa é apenas o sítio onde se dorme e come. Pode esperar. A maior parte dos imigrantes que chegam cá para trabalhar nas obras são colocados pelos patrões em cabanas com pulgas e telhados de zinco - negros de África e brancos de Leste.

anonimo disse...

eu axo que deviam reunir os velhos moradores do bairro , pa relembrarem os bons tempos de convivencia e uniao pasados nele .

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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