Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











quinta-feira, março 09, 2006

Pedreira dos Húngaros (3)

Miguel e Gabriela moravam a 300 metros de distância um do outro mas nunca se tinham encontrado. É verdade que havia um Mundo a separá-los, mais uma rede de malha larga que os serviços camarários puseram para delimitar o bairro. A rede impedia que o bairro de barracas se expandisse e impedia a livre circulação dos habitantes da Pedreira dos Húngaros que, assim, ficaram condicionados a entrar e a sair do bairro através de um portão… De um lado da rede morava o senhor Miguel, caboverdeano escuro, do outro lado a dona Gabriela, loira, dona-de-casa. Os dois eram bastante simpáticos e colaboraram connosco sem reservas. Um mostrou-nos o bairro, a associação de moradores, a sua barraca, a outra abriu-nos as portas do condomínio, mostrou-nos a piscina e a vista do seu T4 no 5ºandar…... os dois responderam rigorosamente às mesmas perguntas e em simultâneo. Eu entrevistei o senhor Miguel, o Mário Lindolfo conversou com a dona Gabriela. A barraca dele tinha custado 50 contos (250 €) em material de construção, o apartamento dela valia mais de 5 mil contos (25 mil €). Um achava os vizinhos simpáticos, a outra considerava-os gente estranha. Ele ia à missa todos os domingos, ela também. Embora em igrejas diferentes… Ele não tinha nada de mal para dizer dos vizinhos, ela aconselhava as duas filhas a mudarem de passeio. Um contraste absoluto. No final da conversa, aceitaram ser apresentados um ao outro. Cumprimentaram-se, com um leve aperto de mão, por entre a malha larga da rede.

5 comentários:

para mim disse...

Genial. Lindo.

alexandre simas dias disse...

A Pedreira do Húngaros parece que já não existe. Mas, apesar dos cumprimentos, a rede continua a existir.
Os dois passeios também.

Caiê disse...

Estes posts sobre a Pedreira dos Húngaros impressionaram-me muito. Em Portugal, trabalhei com imigrantes, estrangeiros que escolheram Portugal para viver (sendo eu própria casada com um) e sou eu quem é agora uma emigrante, fora do meu país (que não o do meu marido).
O racismo existe em todos os países, nãos sejamos ingénuos, e muitas vezes cerradíssimo naqueles que se dizem países desenvolvidos. A intolerância provém da ignorância pela cultura alheia. Isto foi o que sempre pude observar. E é essa ignorância que importava colmatar nas gerações futuras, no meu modesto modo de ver.

Unknown disse...

Excelente.

Isabela Figueiredo disse...

Uma reportagem do caraças!

AddThis

Bookmark and Share

Arquivo do blogue





Acerca de mim

A minha foto
Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

Seguidores