Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











terça-feira, março 28, 2006

Israel, 1989 - na primeira Intifada - o embarque

Naquele tempo, havia voo da El Al de Lisboa para Tel-Aviv. O voo tinha uma escala em Marselha e, logo a seguir, o avião era acompanhado por dois caças israelitas que garantiam a segurança do aparelho, num trajecto demasiado próximo de espaços aéreos inimigos: Tunísia, Síria, Egipto…
A segurança era tremenda, de resto. Qualquer outra companhia aérea encontrava-se a anos luz dos esquemas securitários da El Al. Logo no aeroporto de Lisboa, ainda antes do check-in, todos os passageiros tinham de ultrapassar duas barreiras de interrogatórios e vistoria da bagagem.
O primeiro interrogador queria saber coisas díspares, tipo como se chamava o meu pai, onde tinha nascido, em que dia, que profissão tinha eu, quem conhecia em Israel, onde ia ficar alojado, se tinha algum animal de estimação, se gostava de ir à praia, se era casado, como se chamava a minha prima direita, qual o nome do meu chefe, o nome do presidente da república… às vezes, algumas destas questões eram repetidas, como se, por lapso, se tivesse esquecido de que já a tinha feito. Depois das respostas, viu toda a bagagem, meteu as mãos para tactear entre a roupa, abriu pomadas e desodorizantes para cheirar, tudo passado a pente fino. Depois, no segundo interrogatório, feito por outra pessoa, as perguntas eram as mesmas e a bagagem voltava a ser revistada minuciosamente. No final, os dois interrogadores conferenciavam e, só depois, foi possível fazer o check-in… à menor inexactidão na resposta à pergunta mais insignificante, à menor mentira detectada, estou convencido que esse passageiro não seria autorizado a embarcar. Nunca me senti tão seguro na vida.

4 comentários:

Caiê disse...

Olha que quando casamos com um estrangeiro em Portugal ou quando imigramos para outro país, a quantidade de perguntas "cretinas" que nos fazem os inspectores é de bradar aos céus...

Isabela Figueiredo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Isabela Figueiredo disse...

Ri-me um bocado com isto.
Eles continuam a ser os melhores nestas questões de segurança, como sabes.
No aeroporto de Lisboa, antes do check in para os Estados Unidos, com a Continental Airlines, também nos fazem uma série de perguntas que não cabem na cabeça de ninguém, mas apenas uma vez. Uma delas é a seguinte: alguma vez participou ou pensa que participará em actos de genocídio?
Estou a escrever isto e a rir-me outra vez. Mas há outras igualmente líricas.
(Para tua informação, para deixar este comentário vou ter de escrever as seguintes letras: zpnemegr! Parece-te normal?!"

CN disse...

zpnemegr ? acho bem... eu, para te responder, vou ter de escrever juquqr, o que é muito mais difícil. sabes?, é que fartei-me de receber mensagem publicitarias de tipos que queriam vender panelças e sabonetes... e, assim, eles já cá não entram. é, também, uma questão de segurança... eh eh.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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