Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











segunda-feira, junho 08, 2009

60% incomoda muita gente


Julgo que não falam a sério os que dizem que quem não foi votar são uns calaceiros que se estão a marimbar para tudo e todos. Não me parece razoável considerar que 60% da população com capacidade eleitoral se encaixa nesse perfil de cidadão. Alguns talvez… mas poucos, seguramente.
Se as pessoas não foram votar foi porque consideraram que não se tratava de um assunto relevante para o futuro da colectividade onde, naturalmente, eles se inserem. E se consideraram as eleições irrelevantes, não se lhes pode deitar as culpas em cima. Talvez a elite dirigente tenha alguma responsabilidade nisso, não acham? Talvez a vidinha ande numa merda tal, que já nada importa muito. Talvez a cifra de 800 mil desempregados tenha alguma coisa a ver com isso, não acham? Talvez o salariozinho de 500 € tenha alguma coisa a ver com isso, não acham? Talvez a falta de opções políticas credíveis tenha algo a ver com isso, não acham?
60% de abstencionistas e 4% de votantes que anularam o voto… para denegrirem o significado do não voto, alguns tentaram dignificar o voto nulo ou branco. Dizem que essa sim, é a opção de protesto válida para quem não encontra em quem votar. Curiosamente, aqui há uns anos, dizia-se que os votos nulos eram devidos à ignorância das pessoas, ao analfabetismo – as pessoas não sabiam ler e não se conseguiam esclarecer. Ou, então, eram os velhos mais a Alzheimer que lhes fazia tremer a mão e falhar o quadrado onde quereriam riscar a cruz… Agora já não, os votos nulos são todos por convicção política. Será que não haverá uns comprimidos para tratar a arrogância intelectual?

11 comentários:

Motim disse...

Estou totalmente de acordo!
Por acaso votei ontem, mas fui um abstencionista convicto em eleições anteriores por esses mesmos factos que enumerou.

Basta ir à rua e falar com o povo para saber que:
1 - Os portugueses não vislumbram nenhum político que lhes inspire o mínimo de confiança;
2 - Desses cépticos, muitos acham mesmo que a maior parte dos políticos não só são mentirosos como são criminosos, e vivem para nos roubar a nós e ao nosso país.

Segundo várias sondagens (tenho algumas no meu blogue), mais de 60% dos portugueses considera que o sistema democrático não funciona, e menos de 8% acredita em políticos. Os portugueses estão fartos de serem enganados!

PQ disse...

Há votos nulos por Alzheimer, há votos nulos por convicção, já os brancos são por convicção uma vez que não é plausível que alguém se desloque por desporto a uma cabine de voto.
Quanto às abstenções, há os abstencionistas por desinteresse, por falta de informação, por falta de formação, por falta de oportunidade, por se localizarem muito longe do local de voto e há os abstencionistas por opção política, legítima, de resto.
Concordará decerto que, no plano da cidadania, é mais aceitável estar no mesmo lote dos doentes de Alzheimer do que na companhia dos desinteressados, dos desinformados e dos mal-formados, sendo certo que o que importa é a intenção e nesse plano, o abstencionista consciente, o nulo que não sofra de Alzheimer e o que vota em branco, se encontram no mesmo plano.

Manuela Araújo disse...

Não gosto daquilo em que se tornou o sistema político chamado democracia, mas confesso que 60% de abstenção me incomoda. Incomoda, porque não é novo, sempre por aí andou nas eleições europeias. Incomoda, porque, por isso, e por falta de organização e participação, não dá um sinal claro de que é preciso mudar. Incomoda porque votar é um direito que levou muitos séculos a obter.
Isto é o que penso, não é igual ao que o CN pensa, mas não me arrogo no direito de o criticar, apenas de discordar.
Mas também sei que a culpa maior da abstenção não é de quem não votou, é de quem não soube chamar a votar.
Mas como já lhe disse antes, mesmo os 60% não vão resolver nada.
Espero que apareçam em cena pessoas iluminadas para proporem a mudança do sistema.

Anónimo disse...

Oxalá houvesse. Anda tudo tão armante. É que parece que têm o rei na barriga... É assim fácil de compreender, porque as coisas não andam, para o bem do cidadão comum.
Se fui votar, não deixo de considerar a sua atitude nobre, de coragem e inovadora! Talvez o Carlos seja daquelas pessoas que provocam inveja, por transparecer ou personalizar o bom senso! Tá mal!...
Haja um pouco mais de HUMILDADE, que é isso que o Mundo precisa!!!

AGRIDOCE disse...

Fui abstencionista, como já afirmei.

Na boca (na escrita) de alguns - "os inteligentes", sou uma parte da manada de burros.

Mas vejamos melhor e sem sair de eleições para o PE:

De 2004 para 2009, o universo eleitoral cresceu 8.90%, i.e., 785.192 eleitores em potência a mais (8.821.456 - 9.606.648).

Os votos válidos (não nulos nem em branco), cresceram 51.518, i.e., 1.58% (3.270.116 - 3.321.634).
Já estão a "morder a coisa"?

Então espantem.
A abstenção aumentou 632.371, i.e., 11.67% (5.416.674 - 6.049.045).

Ena tanto burro, estarão a dizer os inteligentes!

Pois, pensando como o CN, hoje os votos nulos e em branco só não são abstenções porque... falta a última gota.
E segundo essa lógica, o aumento de abstenções assumidas e não assumidas, ainda, aumentaram em 733.674, i.e., 13.22% (5.551.340 - 6.285.014). Isto é, quase absorveu os 100% de aumento do universo eleitoral.

Já só falta aos políticos não se ficarem pela afirmação quase neutra de proclamarem o aumento da abstenção, em dois segundos de antena, no dia.
Assumirem que anda muita coisa errada nesta democracia em que 34.58% de inteligentes escolhem quem nos (des)governa e estes, assobiando para o lado, não questionem verdadeiramente o que se está a passar com tanto burro a proliferar.
Que estejam à espera que o descalabro venha em força e andemos todos à estalada de metralhadora em punho.

Inteligentes?

Burros?

Talvez, se nos ficarmos por uma apreciação puramente formal e mecanicista de aplicação da lei eleitoral.

Mas é aí que a coisa começa a necessitar de ser mexida. Começa, digo eu, porque a serem mexidas... andam muito mais coisas.

Anónimo disse...

O blogue é escada de Penrose.

Isabela Figueiredo disse...

Achas, portanto, que a minha posição é arrogância intelectual?

AnaLu disse...

Pois incomoda mas não será pelas melhores razões. Ou pelas piores, se quiser. Sou da opinião que quem é visceralmente contra o sistema instituído deve então propôr alternativas. Deve então concretizar essa indignação, esse inconformismo. Porque é muito fácil demitirmo-nos das nossas responsabilidades, pôr tudo em causa e deixar para os outros, os "carneiros", o "trabalho sujo" (esse, que é votar). Todos temos responsabilidade pelo que se está a passar no nosso país, por muito que nos custe. E temos a obrigação então de lutar para mudar as coisas. É ridículo dizer-se que os políticos é que são os culpados de tudo. Somon NÓS que os elegemos (com o silêncio cúmplice da abstenção). Pelos vistos o modus operandi deles, dos políticos, tem sido suficiente, ninguém exige melhor... E não é ficando inactivos, passivos, no laisser faire (mais ainda do que estamos!)que transmitimos alguma mensagem válida. Uma posição política precisa sempre de afirmação, precisa de apresentar alternativas para ser legitimada. Senão não passa de crítica fácil e incapaz. Porque aquilo que os abstencionistas passam é perfeitamente mudo. É de facto um saco onde cabe tudo, desde a razão mais "nobre", à mais irresponsável, à mais desinteressada. Não creio que o caminho seja desistirmos de tudo. Quanto mais desistirmos mais surgem os tubarões a aproveitar-se da situação e num abrir e fechar de olhos temos aí um sistema autocrático, com o aval dos abstencionistas (quem não se pronuncia é porque concorda, não é verdade?). Ainda não se inventou sistema melhor que este, pelo menos que eu tenha conhecimento. Se inventou, então agradeço que o dêem a conhecer, teria todo o gosto em mudar para melhor.
(Ainda que o texto possa parecer agressivo, não é, de todo essa a minha intenção. Não tenciono agredir ninguém, não foi com esta postura que decidi entrar na blogosfera. Quero deixar isto bem sublinhado porque a mim, o que me interessa, é o debate civilizado e respeitador, como de resto, me parece ser também, a política deste blogue).

Motim disse...

Aposto que estes intelectuais que insultam os abstencionistas foram votar numa das cinco grandes corporações políticas responsáveis pelo buraco em que Portugal se encontra.

Anónimo disse...

Se todos tivessem ido votar, tinha ficado tudo na mesma. (Os votos dos abstencionistas ter-se-iam dividido mais ou menos equitativamente, em resultado da aplicação do mal menor.) Se ninguém tivesse ido votar, certamente que não: passaria a haver 22 lugares vagos no PE.

Anónimo disse...

Não tarda nada temos uma Europa Neo Fascista e depois quero ver tanta teoria... é que as coisas vão andando, e os Senhores, lá se vão governando! Há que ir ao fundo, mesmo fuuundo da questão. Já falta muito pouco para lá chegarmos. Há até quem diga na rádio que o voto devia ser obrigatóro!... isto é normal em democracia??
Tratem de saber mas é o que andam a fazer a nível mundial e vão ver que até a água estão, está a ser açambarcada! Andam a militarizar os "pipelines", para assegurar todos os recursos naturais para eles! Está quase em fase de conclusão! Agora pergunto, porque gastou em média, cada cidadão do mundo 150 euros em armas, no ano 2008 e em crise? Aqui em casa somos 4 e não há armas! Isto é uma média mundial! Estocolmo revelou ontem estes estudos! Só a China triplicou o armamento! Vamos ao fundo da questão.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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