Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











domingo, junho 21, 2009

Espreitar o futuro

Um blogue sem caixa de comentários é um blogue amputado. Por muito que nos custe (refiro-me aos que escrevem nos seus próprios blogues) aturar alguns chatos que por aqui aparecem, a caixa de comentários é a ponte do blogue com o resto do Mundo e é um palco privilegiado para a troca de ideias, para a discussão. Vem isto a propósito de um texto publicado no Novo Mundo e que eu gostaria de ter tido oportunidade de comentar publicamente, até para ter reacções ao meu próprio comentário.
Bom, a Isabela fala sobre o futuro dos jornais, se as edições impressas vão morrer e ser ou não substituídas por versões on line. Diz ela que não se imagina a ler o seu jornal favorito num ecrã de computador... pois eu já só leio jornais no computador e acredito que dentro de alguns anos teremos alguns novos meios de comunicação bem mais populares que os tradicionais.
De acordo com dados do Netscope, o número de visitas aos principais sites noticiosos portugueses aumentou 15 por cento nos primeiros meses de 2009, quando comparado com o período homólogo do ano passado. Os sites noticiosos mais visitados este ano foram A Bola, o Record, O Jogo, o PÚBLICO, Sapo Notícias, Correio da Manhã e o Jornal de Notícias.
Na média dos cinco primeiros meses deste ano, o PÚBLICO lidera entre os jornais generalistas, atingindo pouco mais do que cinco milhões de visitas por mês, um crescimento de 17 por cento face ao ano passado. Já no ranking relativo a Maio de 2009, o PÚBLICO ocupa também a primeira posição no segmento dos generalistas, com 5,3 milhões de visitas. Falamos do Público, um jornal que não consegue vender de modo a tornar-se um verdadeiro negócio para o seu proprietário e que só ainda não fechou porque Belmiro de Azevedo não quis.
De resto, alguns dos grandes patrões do sector acreditam que essa mudança é impossível de conter. Há dias, li uma notícia que dava conta de que Rupert Murdoch vê num futuro próximo o fim da maioria das edições em papel e a transformação dos jornais em produtos analógicos, com actualização constante de notícias. Não haverá volta a dar-lhe, é uma questão geracional, os jovens já não compram jornais mas lêem no computador, no notebook, no iPhone.
Esta revolução já está em marcha. Já há exemplos, como nos EUA e na Finlândia, por exemplo, de jornais que abandonaram o papel para se dedicarem em exclusivo à internet.
Em Portugal, essa mudança ainda não aconteceu, ainda nenhum jornal se atreveu a abandonar o papel, mas todos os principais órgãos de comunicação social têm uma versão net, quer sejam jornais, revistas, rádios ou canais de televisão. E não se limitam a difundir texto, mesmo os jornais e as rádios incluem notícias vídeo nos seus sites, o que revela o formato futuro dos órgãos de comunicação social, que deixarão de se diferenciar em imprensa escrita, rádio ou tv, para serem todos tudo isso ao mesmo tempo.
Alguns jornalistas portugueses mais empreendedores, julgo que empurrados pelo desemprego e a falta de perspectiva de voltarem a ser assalariados, já estão a ensaiar os seus próprios sites noticiosos. Chamo a atenção para o Jornal do Pau, o Diário2.com ou, se quiserem ver uma coisa estrangeira, a Current TV americana. Espreitem… é o futuro.

9 comentários:

Anónimo disse...

O Carlos tem razão, um blogue sem caixa de comentários perde o interesse, porque quem o visita também gosta de saber o que vai na cabeça dos outros.
Eu por exemplo, deduzo que o Carlos só comenta quando não concorda com a opinião dos outros, ou seja, para contra argumentar; é já um perfil que traço do Carlos... posso até estar errada, mas isto diz bastante. Pode também dar-se ao desprezo a certos comentários que para si, não passam de chachadas e ainda, quando não gosta, tem o privilégio da mediação.
Por isso, tem toda a razão, um blogue sem caixa de comentários perde o interesse, para quem gosta de participar, porque a ponte foi destruida... por isso, o melhor é ler um livro bom.
Quanto aos anónimos, não concordo! Escondem-se atrás do anonimato para, quase sempre, serem desagradáveis ou até mal educados. Disso não precisamos, obrigada.

Karocha disse...

Gosto muito do João Severino, chamo-lhe a minha central de noticias,é o primeiro blog aonde vou quando me ligo!
Bom, muito bem feito por um excelente profissional.
O seu descobriu-o há pouco tempo!
Diferente, mas muito bom também.

Isabela Figueiredo disse...

Assim, em vez de comentares, tens a oportunidade de escrever um texto sobre o tema no teu próprio blogue, o que ainda e melhor.
Não vejo o meu blogue como um blogue amputado. Pelo contrário, sinto-me muito mais livre, porque não tenho que estar a pensar "ao escrever isto vai-me aparecer o maluco x ou y do costume a dizer k ou w", e escrevia, e lá vinham eles. Já me andava a sentir um bocado premonitória demais. Não me sinto nadinha de nada amputada, tenho muita pena.
E quanto aos jornais, como escrevi, penso que a digitalização quase total da informação, embora seja um futuro bastante plausível, criará, de certeza, alternativas de imprensa escrita de grande qualidade. Porque eu vou continuar a ler em papel o essencial da minha informação.

Anónimo disse...

O que eu queria era um jornalista como o Carlos Narciso de volta às lides, fosse lá em que suporte fosse.

Entretanto, atribuí-lhe o Prémio Lemniscata, uma vez que é uma das minhas leituras diárias.
http://aescadadepenrose.blogspot.com/2009/06/um-biscoito-para-mim-um-biscoito-para.html

inominável disse...

"o fim da maioria das edições em papel e a transformação dos jornais em produtos analógicos, com actualização constante de notícias."

Destesto a ideia de ter apenas actualização constante de notícias, feita por uma grande percentagem de jornalistas acéfalos e sem espinha dorsal...

De que me adiante ler os factos, vê-los cada vez mais perto do directo, se nada aparece bem comentado, se não há opiniões críticas de jeito, se ... não há jeito? Esta tendência para "as notícias constantemente actulaizadas", pelo que vejo no Público, no Expresso e no SOl (nas edições electrónicas dos 3) apenas levam à exploração do detalhe (daqueles que não têm valor mesmo nenbum), do fait-divers elevado à categoria de notícia com direito a directo, do sensacionalismo e do digestivo fácil... Como diria o outro, "assim, não"...

Unknown disse...

A solução, a pensar em pessoas como a Isabela, poderá ser versões dos jornais online para impressão, o mais semelhantes possível aos jornais em papel. Para mim, a relação que se estabelece com os jornais e as notícias é diferente, quando os/as leio em papel ou na net- por ex., gosto de ler os jornais de trás prá frente... uma mania como qualquer outra...
De facto, o futuro passará por meios de comunicação social híbridos, versáteis, mas convém que consigam compatibilizar o imediatismo que podem ganhar, com o aprofundar dos temas. Por que hoje já se pode ler um jornal num telemóvel, na praia ... é de facto um admirável mundo novo, que só não deverá ser bem visto plos gráficos ...

Quint disse...

Concordo quando afirma que um blogue que não permite comentários deixa sempre um certo amargo de boca a quem o lê.
Embora possa compreender que haja quem não se queira expor ou sujeitar à pouca educação que por vezes alguns usam, mesmo assim gosto de poder ler e deixar assinalada a minha opinião. Por modesta que seja e é-o quase sempre.

Sobre o papel informativo de alguns projectos da chamada blogosfera, perfeitamente de acordo.

Se são uma das novas formas de comunicar, também podem ser utilizados para transmitir informação. Nalguns casos obrigando mesmo a que a dita Comunicação Social vá atrás das deixas que por ali são semeadas.

Chamem-se o que quiserem, mas ainda gosto de sentir entre os dedos o papel do jornal. Não quer dizer que não ande por estes meios, mas um jornal em papel transmite sempre um certo prazer quase secreto.

Já por aqui houve quem garantisse que aquilo de que gostaria mesmo era ver o Carlos Narciso de regresso ao pequeno ecrã. Eu permito-me pilhar essa ideia e dizer que também eu o gostaria de ver de regresso!

JPN disse...

Carlos concordo contigo ( e em relação ao Rui Herbon no desejo de ver tipos como tu, seja lá em que suporte, a fazerem o que sabem melhor) em relação ao modo como a imprensa digital é o futuro. Mas gostava de lançar a interrogação: e que futuro é este? E de que modo é que as novas consígnias de produção de jornalismo neste futuro que já é agora, alteram as permissas do trabalho jornalistico em que a tua geração foi criada?
Por exemplo: a notícia digital é muitas vezes o pontapé de saída para uma interactividade discursiva que se aloja na mensagem informativa dando origem a uma nova mensagem que tem niveis diferentes de aprofundamento. Imagina que escreves uma noticia sobre o Freeport. Soubeste de umas coisas, investigaste outras tantas e conseguiste organizar o material de forma a produzir, de modo congruente, uma noticia. A partir do momento em que ela é publicada, por uma estratégia de interactividade sem a qual, comunicacionalmente, tudo morre hoje, fulano, sicrano e beltrano vão sucessivamente introduzindo comentários sobre o que tu escreveste. Também, em nome da bendita interactividade, há um conjunto de rastos, ligações, para blogues, twitters, facebooks, etc, onde a opinião constitui material que vai estar a lado com a informação que tu produziste, utilizando os parametros do jornalismo de investigação. Quando um novo leitor chega lá, o que encontra é um lençol textual que é uma manta de retalhos em relação ao modo como foi produzido mas que tende a ser lido como uma só peça pelo leitor.

Poder-se-à dizer, e bem, mas isso é o que já acontecia de modo invisivel, quando não havia esses meios. O tipo acabava de ler a noticia na esplanada e logo a seguir o café alargava-se num forum sobre o assunto em que o bitaite se agregava à matéria informativa. Não só é verdade como é uma condição que faz com que a visibilidade dessa interactividade aumente a capacidade de ela ser analisada, avaliada.

Por outro lado isso deixa visivel uma outra coisa: esta febre de noticia não é obrigatoriamente uma febre de informação (desenvolvida). O que nós queremos é um link para podermos tomar posição. E para isso é muito mais vezes mais indicativo o comentário alojado no material jornalistico do que o próprio trabalho do jornalista.

Graça disse...

É o futuro, sem dúvida. Mas continuo a gostar de jornais em suporte papel e de bons jornalistas :).

Este ano, para uma aula, pedi aos meus alunos que trouxessem jornais para os analisarmos. Foi muito interessante ver o tipo de publicações que chegaram para o trabalho proposto. Aqui há uns anos, chegariam o Diário de Notícias, o Expresso e outros que existissem lá por casa. Agora, desde a Dica da Semana ao Metro, foi o que se arranjou. Parece-me que, sim, cada vez mais se está a perder o hábito de comprar um jornal.

Quanto ao início do seu texto, concordo em absoluto. Uma caixa de comentários num blogue é essencial... só assim foi possível dirigir estas palavras a um jornalista que sempre admirei.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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