Pela primeira vez, não vou votar. Desta vez, decidi não legitimar ninguém. Ninguém dirá que fala em meu nome. Em meu nome, falo eu. E se muitas vozes se juntarem à minha, certamente que seremos escutados. Estas eleições europeias podem ser, realmente, importantes. Basta que a população dê um veemente sinal de protesto. Não votar ou votá-los à indiferença, é um dos sinais de protesto possíveis. Se eles forem eleitos por uma minoria ridícula de votantes, poderão lá ficar com os tachos milionários, mais a vaidadezinha toda, mas o ridículo vai-se-lhes agarrar à pele. Talvez assim, sem uma real legitimação democrática, os senhores deputados europeus e a Comissão e os governantes nacionais e os políticos em geral, passem a ter vergonha na cara e comecem a zelar pelos interesses e pelo bem-estar do povo. O não voto é um aviso. O próximo passo poderá ser algum tipo de insurreição civil. Eles sabem e têm medo disso. E se a abstenção nas eleições europeias é já um dado adquirido, a possibilidade desta atitude se repetir nos próximos actos eleitorais tem um significado político que os políticos não poderão deixar de levar em conta. Quem julga que um regime, qualquer regime, pode sobreviver sem adesão popular engana-se.
A actual crise económica tem pai e mãe. É filha do adultério entre o capitalismo e a democracia. Foram os tipos em quem temos andado a votar que o permitiram, que beneficiaram de todos os logros e de todas as impunidades. Votei neles… mas agora não. Dizem-me que podia votar naqueles que nunca tiveram participação nas malfeitorias do meu desagrado. Podia… mas votar em quem quer que seja é legitimar todo o processo político, é legitimar quem vence mesmo que não tenha sido esse o sentido do meu voto.
É importante dar um sinal de que não queremos continuar por este caminho. Não queremos continuar a pagar as asneiras dos outros, as falcatruas dos outros, os desfalques. Desta vez, com o meu voto não contam.
A actual crise económica tem pai e mãe. É filha do adultério entre o capitalismo e a democracia. Foram os tipos em quem temos andado a votar que o permitiram, que beneficiaram de todos os logros e de todas as impunidades. Votei neles… mas agora não. Dizem-me que podia votar naqueles que nunca tiveram participação nas malfeitorias do meu desagrado. Podia… mas votar em quem quer que seja é legitimar todo o processo político, é legitimar quem vence mesmo que não tenha sido esse o sentido do meu voto.
É importante dar um sinal de que não queremos continuar por este caminho. Não queremos continuar a pagar as asneiras dos outros, as falcatruas dos outros, os desfalques. Desta vez, com o meu voto não contam.
10 comentários:
Concordo com a análise mas o certo é que o sistema já se habituou a conviver com a abstenção, come-a como certas bactérias se alimentam já de antibióticos. Abster-se é colocar-se ao lado dos que não querem saber, daqueles para quem a gestão da coisa pública é tarefa de iluminados, dos comodistas e daqueles que, simplesmente não têm opinião.
Voto branco ou nulo é, na minha perspectiva, a forma mais adequada de responder a este estado das coisas. Mostra que investimos energias, mostra empenhamento, mostra que temos opinião.
Já imaginou um momento em que as filas nas secções de voto se assemelhem à hora de ponta e no fim, os resultados espelhem uma maioria de nulos e uma frase simples escrita em cada boletim acabe por ganhar as eleições. Sei lá... 'Quero uma verdadeira democracia'.
Utópico? Talvez, mas o homem pisou a Lua pela primeira vez em 69, repito, em 1969; já imaginou a utopia tornada realidade que esse feito encerrou?
E vão dois.
Também pela primeira vez (já me aconteceu uma outra vez, mas fui obrigado a falhar, não foi por opção), não vou votar nestas e, a não se alterar substancilmente toda a forma de fazer política nesta Europa, mas também e essencialmente no nosso cantinho, vou-lhes oferecer um manguito nas próximas.
Bem sei qual o valor matemático desta minha opção, mas espero que o valor político de uns quantos como eu se venha a sobrepor às matemáticas.
O pior é que vão arranjar uma justificação, como sempre arranjam, para a elevada a abstenção. Normalmente, dizem que o pessoal preferiu ir para a praia, em vez de ir votar. O tempo está de chuva, não dá para ir para a praia. Mas dá para ir de férias, numa semana com dois feriados. Portanto, eles lá arranjarão maneira de se legitimarem, uma vez mais, e os eleitores é que não prestam (não os políticos), porque se baldam ao seu dever cívico...
Para mim, a partir de 50% de abstenção, os eleitos, seja para que órgão for, perdem a legitimidade democrática. Já anda por aí muita gente a teorizar sobre isto, com artifícios legais, éticos e políticos de seriedade mais que duvidosa, talvez à espera que esse valor possa ser alcançado não dentro de muito tempo numas legislativas. Nesse dia, sentir-me-ei legitimado para desobedecer às leis e ao governo emanados de tal plebiscito.
Olha, já somos dois... e eu fiz pior: inscrevi-me e tudo, aqui na minha área de residência em Berlin, só para poder aumentar a lista de abstenções... Não tenho paciência nem para o que referes, nem para se confundirem vias europeias com vias nacionais... Porque é que todos os partidos (em Portugal, na Alemenha e tutti quantti) utilizam as europeias para fazer política nacional????? Tem sido um fartote e eu estou farta...
Como diria o L. Férré, "Dans notre siècle il faut être médiocre, c'est la seule chance qu'on ait de ne point gêner autrui." Mas parece que a mediocridade está a dar os seus frutos... frutos apodrecidos, mas com a ainda aparência da democracia...
Achei giro o que diz o PQ: uma lista enorme de propestos nos boletins de voto... Já fiz isso, comediando a partir de um soneto da Florbela Espanca (levou um tempo danado a copiar a cábula, na célula eleitoral)... E sim, precisamos desse "ensaio da lucidez" que dê voz à abstenção... Talvez o paradoxal "partido da abstenção" :)
Concordo com o que diz PQ. Sou mais a favor do voto branco. Porque a abstenção contém uma mensagem de interpretação incerta. Não votámos porque estava a chover, não votámos porque fazia sol e fomos paraa praia, não votámos porque fomos de férias; agora, o voto branco diz que estivemos lá, que cumprimos o que consideramos uma direito/obrigação civil, mas que efectivamente não nos agrada nada daquilo. O sistema não nos agrada.
Eu, obviamente, vou votar. Não conseguiria abster-me. É totalmente contra o meu espírito político.
Também concordo com PQ- vale mais um voto em branco, ou nulo, do que a abstenção, que acaba sempre por ser justificada pelo sistema, até porque a própria Constituição deveria considerar nula uma eleição na qual participasse menos de 50% do eleitorado.
Que se vote, sim, ainda que em branco ou com cruzes em todos os quadradinhos ... porque antes de nós muitos morreram, sacrificaram as suas vidas, a sua saúde e as suas famílias, para que hoje possamos votar e criticar a classe política... se começassemos todos a abster-nos, quem nos garante que esse direito a votar nos fosse retirado, com o argumento de que "já que não se interessam em votar, acaba-se a eleição directa!"
Francamente não sei se resolverá alguma coisa em não exercer um direito de votar, "acto livre de expressar a minha vontade" acto de exercer o meu lado cívico. No entanto, entrelinhas concordo, em parte, no que se refere identidade do casamento, á família europeia, onde o pai e mão numa espécie prostituição politica. Quem será os principais responsáveis? Por mim, sei que também sou, porque e por causa da minha consciência de cidadania, com certeza, não devia de ir às urnas (!) Mas fui. Tenho por acto de bem servir, que só votando em consciência se exerço o meu acto de “Cidadania”. Aliás, não pode de ser de outra maneira. Nas entrelinhas penso que, se for quase a só, desta vez fico não bem, mas mal acompanhado.
Pelosa visto andam por aí bons fantasmas alertar pela desgraça a insurreccionar
Por isso fui. Enquanto tiver olhos, vou ver. Como será!
Por mim, o conselho que posso dar é, devemos ser livres nos actos e pensamentos.
Com legitimidade ou sem legitimidade, os deputados foram eleitos. E 2/3 dos eleitores, por muitas e nobres motivações que tivessem, em termos práticos, apenas concordaram com o que 1/3 decidiu.
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