Ariel Sharon morreu, mesmo se a máquina ainda obriga o coração a bater e os pulmões a respirar. Embora se esteja na Terra Santa, não deve haver milagres nesta história. Sharon não deverá ressuscitar, pelo menos para uma vida activa e participativa. Neste momento, os políticos da região traçam cenários e calculam probabilidades. As potências envolvidas na região já colocaram tropas de prevenção e os telefones não devem parar nos gabinetes diplomáticos.
Sharon deixa uma herança complicada. Deixa um país emparedado por um muro nojento. Deixa um processo de paz encalhado. Deixa um partido político dividido e outro mal-formado e órfão de pai. Os adversários políticos internos vão, agora, digladiar-se pela conquista do lugar vago. Para os adversários políticos externos, pouco muda. Os palestinianos já defrontaram todos os líderes israelitas. Venha quem vier, a luta será a mesma. Os palestinianos sabem que irão pagar caro o desaparecimento de Sharon, apesar de não terem qualquer responsabilidade no sucedido. Sabem que os políticos israelitas irão concorrer entre si para ver quem é o mais duro, o mais nacionalista. Muito provavelmente, os colonatos voltarão a Gaza. É quase certo que os militares voltarão…
Estive em Gaza em 1989. Já nessa altura, o território era um imenso campo de refugiados. Gaza deve ser o local do Mundo com maior índice de habitantes por metro quadrado. As casas empilham-se umas nas outras, em ruas estreitas por onde escorrem esgotos a céu aberto. É um sítio demente, stressante. Fui a Gaza para filmar parte de um documentário que fiz para a RTP sobre o 2º aniversário da Intifada. A primeira Intifada. Quando aparecíamos na rua, de câmera em punho, alguém sempre dava início a tremendas cenas de pedrada contra as patrulhas do exército israelita. Os palestinianos estavam sempre prontos para a luta. E sabiam aproveitar as oportunidades, de modo a economizar esforços. Deve ser assim, ainda hoje. Venha quem vier de Israel, eles já estão preparados para os enfrentar.
Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.
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sábado, janeiro 07, 2006
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Acerca de mim
- CN
- Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média
2 comentários:
Não querendo ser demasiado ingénua, embora o seja talvez demais: se não há milagres na Terra Santa, o que poderá haver, o que poderá resultar? Os judeus não vão sair. Os palestinianos, igualmente! O tempo ou o sangue resolverão este problema que a História gerou?
não sei responder. sei só aquilo que a história ensina. perde quem não conseguir sustentar o conflito. às vezes, não é uma questão de dinheiro ou capacidade militar. as guerras também se perdem pela opinião pública e pelos condicionalismos internacionais. obrigado por vir a este blog.
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