Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











terça-feira, janeiro 17, 2006

Segregação Racial

Ontem foi “Dia de Martin Luther King”, efeméride que só se comemora nos EUA, segundo creio. A comemoração é pretexto para algumas encenações políticas, com pouco significado real.
Bush encontrou-se com o Reverendo Jesse Jackson, um político negro que se apoia na igreja que dirige para fazer ouvir a sua voz e alcançar os interesses que defende. As cerimónias decorreram em Nova Iorque, os discursos foram politicamente correctos, mas a realidade está muito longe de ser satisfatória quanto à concretização do “sonho” de que Martin Luther King falava.

Um relatório da Universidade de Harvard revelou que a segregação racial aumentou, nos EUA, desde a década de 90 até hoje. Esse relatório, tornado público ao mesmo tempo que se realizavam as comemorações, diz que o racismo nos EUA, em vários aspectos, regressou aos níveis de 1968, ano em que Martin Luther King foi assassinado. "The national segregation levels are back at levels of the late 1960s," disse o Professor Gary Orfield, co-autor do relatório. "We have lost almost all the progress that came from desegregating our urban communities", acrescentou o académico.
Este estudo revela que a segregação já não é, apenas, entre brancos e negros, mas que atinge outras minorias étnicas, como os latinos ou os orientais.

Em 1996, o Director-Geral da SIC, Emídio Rangel, foi convidado pelo governo americano para participar num seminário sobre segurança e direitos humanos nos EUA. Rangel tinha mais que fazer e deu-me a viagem. Na altura, apresentava e coordenava o “Casos de Polícia”, pelo que, digamos assim, seria o jornalista mais especializado na matéria da redacção da SIC.
O seminário decorreu em várias cidades: Washington, Atlanta e Porto Rico. Nos vários locais, tínhamos oportunidade de visitar um conjunto enorme de instituições à escolha. Escolhi tribunais, cadeias e escolas. E vi, com espanto, escolas só de negros, onde se ensinava às crianças a “história negra dos EUA”, onde nos corredores só se exibiam posters e fotos dos “heróis negros”, entre os quais, claro, Martin Luther King. As crianças negras e brancas dos EUA não têm o mesmo curriculum escolar, aprendem realidades diferentes. Acho isso muito estranho. Nas cadeias, vi populações prisionais onde 70% eram negros, apesar dos negros não serem mais de 25% da população. Nos tribunais de polícia, onde os casos são sumariamente julgados, as filas de arguidos eram quase só de negros…

3 comentários:

Isabela Figueiredo disse...

Concordo absolutamente. O racismo está de regresso enquanto fobia socio-económica. Aqui, reparo que, nas escolas dos subúrbios, as turmas com curricula especiais são enformadas por alunos negros ou brasileiros mistos; reparo que nos hpermercados e nos centros comerciais os negros são encarados com desconfiança e vigiados, todos, como ladrões. Há cafés e restaurantes, lojas, onde um negro não se atreve a entrar. Existe um apartheid não declarado, contudo, muito evidente para quem observa.

CN disse...

sim, isso é rigorosamente verdade. há sítios onde um negro tem logo o labelo de gatuno... e sei como é difícil um negro arranjar emprego sem ser nas obras, na caixa dos supermercados ou numa boutique de centro comercial. e mesmo assim...

Anónimo disse...

apesar de haver segregação racial, que não ignoro, penso todavia que muitas vezes ela é fruto, de uma segregação muito mais vasta e demolidora... a segregação social! é atrás desta que vêm todas as outras...
FORÇ'AÍ!
js de http://politicatsf.blogs.sapo.pt e http://mprcoiso.blogs.sapo.pt

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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