Aterrei em Mogadíscio em plena demência no vespeiro. Não sabia onde dormir, não sabia onde comer, não conhecia ninguém ali, nenhum outro jornalista português estava por ali naquela altura. Na primeira noite tentei ficar no compound da CNN, uma casa enorme, murada, guardada por civis americanos armados de metralhadoras. Fui posto na rua, noite escura, com um “it`s not possible”. Do lado de fora da casa, fiquei encostado à parede, sem saber o que fazer. Ouviam-se tiros, muito perto dali.

Até que um veículo saiu do compound. O somali que conduzia viu em mim uma receita extra para aquele final de dia. Chamou-me, disse-me em bom inglês que eu era louco, que se ficasse ali seria morto e perguntou onde eu estava alojado. Pensei no que responder e saiu-me “na Cruz Vermelha Internacional”. Disse que para me levar até lá queria 10 dólares. Nem discuti…Chegados à casa da ICRC – International Committee of Red Cross – bati com força no portão metálico. Demorou algum tempo, mas alguém me abriu a porta e antes de abrir a boca já estava na parte de dentro. Pedi para falar com o director. Apareceu-me um branco, germânico, que adivinhou ao que eu ia assim que me viu e disse que não podia lá ficar. Sentei-me no chão e respondi, “daqui não saio, lá fora andam todos aos tiros”… e foi assim que encontrei o primeiro alojamento em Mogadíscio.
3 comentários:
Esses fulanos da CNN, hein?! Grandes filhos-da-mãe!
Estas histórias são muito boas. Arrepio-me, mas, ao mesmo tempo, que excitação!
Se é para se viver, que se use a vida toda, e tudo.
Continuo curiosa sobre as fotos de África.
Posso concluir que, quando não indica a fonte, são suas?
já percebi que estou a criar confusão. algumas fotos são minhas, outras não. a partir de hoje vou passar a indicar a autoria das fotos, que é, aliás, o que sempre deveria ter feito.
sorry.
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