Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











terça-feira, janeiro 31, 2006

As caricaturas da ignorância

A crise política e diplomática provocada pela publicação das caricaturas de Maomé é a prova acabada de como é difícil entendermos os que nos são estranhos. Isto, partindo do princípio que a publicação das ditas caricaturas não foi feita com intuito provocatório. Acontece, simplesmente, que para nós, europeus, já nada é sagrado. E custa-nos entender as razões da zanga dos muçulmanos. Os preceitos religiosos islâmicos proíbem a representação do Profeta. Nas mesquitas não há imagens de Maomé, nem nas escrituras sagradas. Para os católicos, tudo é diferente. E nas igrejas, católicas ou ortodoxas, quanto mais imagens do Profeta melhor.
Depois, há outro pormenor: a liberdade de expressão. Nas democracias ocidentais não se pode limitar a liberdade, nem mesmo em nome de Deus. Embora isto não possa ser entendido como um dogma civilizacional… a verdade é que a liberdade de expressão e de imprensa são direitos fundamentais dos regimes democráticos. E temos de perceber que isto custe tanto a entender para um muçulmano, como para nós é difícil perceber os preceitos religiosos do islamismo.
É a ignorância mútua.

7 comentários:

armando s. sousa disse...

É na realidade um choque civilizacional e sem solução.
Um abraço

Leston Bandeira disse...

CN: Ainda bem que homens da comunicação como tu aderem a esta forma nova de comunicar e que aos olhos dos jornalistas com alvará parece um "crime", porque não temos que cumprir regras, para além, obivamente, das que o nosso "juramento de Hipócrates" nos obriga. Um juramento que a a maior parte deles desconhece. Manda quem paga.
Um abraço

LB

Isabela Figueiredo disse...

Devemos respeitar as crenças religiosas alheias, concordo absolutamente - não sendo exactamente beata, não gosto de ver simbolos cristãos abastardados; mas uma coisa é abastardamento, e outra, diferente, expressão artística, crítica social e por aí adiante. Se o falecido Papa mereceu o preservativo no nariz?! Assentou-lhe muito bem. A questão é a quem ofendemos, ao profeta e à religião, portanto à dignidade popular, ou à máfia que vive à volta do Livro Sagrado e tem o direito de vida e de morte em seu nome?! Respeito o Livro, mas não o assassinato de inocentes, em nenhuma cultura. Os preceitos religiosos islâmicos e cristãos proíbem liberdades básicas para qualquer ser humano. Provavelmente por uma questão de interpretação, que será reavaliada daqui a 100 anos. E daqui a 100 anos já tudo isto terá sido um enorme erro! E pedir-se-ão desculpas envergonhadas aos lapidados executados! Que excluam os prevaricadores da vida religiosa, parece-me lógico; que lhes impeçam a cidadania, em muitos casos a vida, parece-me pouco... religioso.
Isto é tudo muito complexo, muito polémico, eu sei, mas parece-me que transcende as meras questões de ignorância. Penso que há princípios que são dogmas universais: liberdades individuais no que respeita à escolha de percursos de vida, direito à vida... enfim.

Por algum motivo mais ou menos oculto acho que o homens ocidentais, de esquerda, manifestam uma aceitação pelas culturas muçulmanas que a nós, mulheres, de esquerda, escapa.

Diogo disse...

Dada a situação política actual, com a fabricada «guerra ao terrorismo», tenho a certeza que a publicação e a divulgação das caricaturas tem intuitos provocatórios. É mais um passo no «choque de civilizações», tão caro à administração Bush.

CN disse...

Isabela, eu não aceito nenhum tipo de prepotência, venha de quem vier. O que digo é que aqueles tipos vêem o Mundo pelos seus próprios olhos... não pelos meus, nem pelos teus. Muito menos pelos teus... que mulher não se deve meter nestas coisas. Mas a verdade é que eles vivem noutra realidade. É só isso que teremos de perceber, se quisermos, claro...

Isabela Figueiredo disse...

Mas os países muçulmanos não estão obrigados ao respeito pelos princípios consignados num texto intitulado Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovado em 10 de Dezembro de 1948, na Assembleia Geral das Nações Unidas?

Eu te digo quem é que se mete onde, quando e como lhe apetece! Mas brinca, que a procissão ainda não saiu do adro...
:D

CN disse...

e desde quando o Direito Internacional é Lei Universal? porque, se não é patra umas coisas, também não deverá ser para outras.
Mas, claro que tens razão. E eu não tenho jeito para advogado do diabo...

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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