Esta introdução cautelosa justifica-se porque quero questionar a ideia de que a democracia torna os países mais dóceis, mais dialogantes, menos propensos para actos de guerra. É isso que nos ensinam nas escolas, nos jornais e televisões, na propaganda política.
Quando dizemos que “não há povos maus, o que há é maus líderes”, queremos dizer o quê, em rigor? Que os líderes maus são sempre sustentados por minorias violentas? Poderá ser confortável acreditar nisso, para a boa consciência colectiva, mas penso que isso é mentira. Hittler venceu eleições e, em meia dúzia de anos, lançou o Mundo na guerra mais sangrenta. O Japão é uma democracia mas a China não confia no vizinho. O Afeganistão tem, agora, um governo eleito, mas as mulheres continuam a ser obrigadas a vestir burka. Os EUA são “a” democracia, mas invadiram um país sob falsos pretextos. A Índia é uma democracia, mas o Paquistão teme-a. O Presidente do Irão, eleito por voto secreto e universal, quer dotar o país com capacidade nuclear…

E que dizer quando as democracias se aliam às ditaduras, porque são “aliados na luta contra o terrorismo”? A democracia não tem má consciência? Pois é pena… deviam substituir a cartilha de Maquiavel por uma outra, menos cínica e assassina. É que, a continuar assim, não me admiraria que muitos países pobres e sem futuro acabem a eleger, democraticamente, governos radicais e extremistas com projectos de violência.
2 comentários:
Democratas creio que somos a maioria, mas ter consciência disso, já é outra história em relação a muita gente....
Isso é tudo verdade. Temos muitos exemplos desses, mesmo entre as mais antigas da Europa.
As democracias fazem-se devagar. A nossa é recente. Por que não teria a democracia má consciência? Pelo menos que tenha alguma consciência.
Percebo tudo isso, mas já no outro dia dizia o mesmo a um comentador lá no meu lado: saídas? Gostava que me ajudassem a ver alguma!
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