Fomos lá para filmar uma extracção de bala da perna de uma senhora, alvejada no dia anterior por um sniper. Esperávamos autorização para entrar no bloco quando ouvi, mesmo ao meu lado, um som estranho. Parecia uma coisa a despegar-se… olhei e vi uma mulher, ainda jovem, deitada na maca, de mãos crispadas agarradas ao rebordo da maca, olhos muito abertos virados para o tecto, de pernas abertas, destapada… e vi o miúdo a nascer. Sozinho. Tudo num estranho silêncio. A mãe de lábios cerrados, a criança a nascer num esforço solitário. Chamei uma enfermeira. A parturiente foi levada e o bebé acabou o esforço de nascer já assistido por outros seres humanos. Estava vivo mas teimou em não chorar. Quando tentaram pô-lo no peito da mãe, foi rejeitado, silenciosamente.Aquele bebé era resultado de violações repetidas sofridas pela mãe às mãos de soldados inimigos. Jamais seria aceite pela mulher que o pariu.

3 comentários:
Meu Deus.
Infelizmente, o fardo de ser mãe daquela criança não deixa que muitas delas os abandonem. Temo pela forma que olham, mas mãe é ter um sentimento único. Como será esse amor?!
Nascer órfão, de facto. Não consigo imaginar o que vai na cabeça duma mãe em tais circunstâncias. Mais duas vítimas da guerra.
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