Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Congo, 2001 - A Expedição, em Bili

A chegada do avião é um acontecimento muito raro, pelo que merece toda a atenção dos habitantes. Só assim se compreende que a população deixe a sombra das palhotas para se expor ao calor implacável. Noutros tempos, Bili foi um dos entrepostos comerciais do Alto Zaire. Toda esta região foi bastante povoada por europeus, principalmente portugueses, belgas e gregos que formavam uma comunidade de comerciantes que por ali permaneceu até à independência do Zaire, em 1960. Mas, depois, as condições de vida dos brancos só pioraram, até que foram quase todos embora… Não é fácil chegar a esta aldeia, no extremo Norte do Congo. As ligações por terra são tão difíceis que a verdade é que não existem. As estradas, todas de terra batida, nunca mais tiveram manutenção desde que a Bélgica deu a independência ao Zaire. Quase 50 anos depois, a floresta tomou conta do corredor por onde os carros passavam. Restam caminhos pedonais ou, quanto muito, para quem se desloque de bicicleta. E é preciso que não chova, porque na época das chuvas tudo se confunde com rios e ribeiros. No tempo em que os brancos lá viviam, no mercado de Bili vendia-se café às toneladas e compravam-se bois vivos. Hoje, depois de anos e anos de guerra civil e depressão económica, as trocas comerciais resumem-se a uns grãos de feijão ou milho e a moeda mais corrente é o sal. O mercado mais importante da região só funciona ao domingo. Sem estradas, há cada vez menos pessoas a deslocarem-se ao mercado, até porque há cada vez menos coisas para comprar.
E pensar que é precisamente no Norte do Congo, que o chão é mais rico em diamantes e a floresta mais rica em madeiras preciosas.

3 comentários:

Anónimo disse...

Paradoxal, esta África ...

CN disse...

Penso que a Bélgica deu, antes de ter sarilhos sérios com o assunto.
Deu o poder a um oficial negro do seu exército colonial, o senhor Mobutu. Mas, enfim, reconheço que utilizei um termo impreciso. Um abraço.

Isabela Figueiredo disse...

Uns conseguem "ver", mas não podem "fazer". Muitos que podem "fazer" não conseguem "ver". Serámos tão felizes se pudéssemos, em simultâneo, "ver" e "fazer"! sou muito idealista, não sou? Acho que sou.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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