
Naquela semana decorria uma reunião de gente ligada ao trabalho missionário na Província Equatoriale, no norte do Congo. Os Combonianos reuniram em Bondo, mais de 30 pessoas. Muitos levaram uma semana a pé para estarem ali.
Comíamos todos juntos, as três refeições do dia. O jantar era cedo, porque era necessário poupar o gasóleo do gerador. É que a estação de serviço mais próxima ficava a 750 quilómetros de distância… mas, de vez em quando, lá se ligava o gerador. Nessas ocasiões o Odacir Júnior (o camera-man que trabalhava comigo nessa viagem) aproveitava para carregar as baterias da Betacam e eu aproveitava para ligar o telefone satélite. Foi o que aconteceu nessa noite… depois de ter falado para casa, em Lisboa, um dos acólitos dos Combonianos que tinha estado a observar-me perguntou o que era “aquilo”. Respondi-lhe que era um telefone e expliquei-lhe como funcionava. Ele perguntou-me com quem tinha estado a falar. Respondi-lhe que com a minha mulher, em Lisboa. Ficou a olhar… e depois de uma curta meditação disse uma coisa extraordinária: “vocês, brancos, estão perto da divindade”.
6 comentários:
Mas poucas vezes damos conta (entenda-se divindade, neste contexto, como acesso a privilégios, comodidades...)!
Lembras-te daquele primeiro anúncio da TMN, em que aparecia alguém sentado no cacilheiro a falar ao telemóvel? Sempre achei que aquilo era rídiculo. Onde é que cabia na cabeça de alguém que podia ser possível?
Lembras-te de quando os computadores começaram a chegar às redacções, e tínhamos de ir fazer cursos de paginação em programas que não lembram ao diabo? O que se refilava! Que íamos fazer aquela merda só no trabalho, porque a máquina de escrever ninguém nos tirava!
Posso jurar que disse centenas de vezes que nunca na minnha vida havia de mexer na internet.
A obra do senhor é grande, realmente!
Será que estamos?
Temos a vida tão facilitada que nem nos lembramos do divino.
(Digo eu, que abdico destas coisas, para viver.)
O telégrafo não está completamente em desuso. Os radioamadores ainda o usam e conseguem com ele estabelecer contactos que de outra forma seriam impossíveis, por causa das más condições de propagação, por exemplo.
É sabido que os radioamadores são o último recurso em situações de catástrofe, quando todas as outras formas de comunicação falham.
Voltou a acontecer assim em algumas ilhas remotas do Oceano Índico após o tsunami. Não sei se a telegrafia terá chegado a ser usada neste caso. Admito que não; provavelmente só usaram a voz. Mas mesmo assim a telegrafia ainda pode ajudar a salvar vidas neste séc. XXI, se acontecer uma situação de emergência em que nem a voz consiga fazer-se ouvir.
talvez tenhas razão, Denudado. mas quem sabe telegrafar? onde se aprende?
Carlos, todos os radioamadores são obrigados a saber enviar e receber mensagens telegráficas.
não fazia a mínima ideia. pensei que se limitavam a falar tipo "papa alfa tango zulu 4"...
:-)
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