Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Angola, a guerra ainda

Acabei de ouvir, na TSF, notícias de última hora que me fizeram retroceder no tempo, como se a guerra em Angola ainda não tivesse terminadoMataram o missionário Afonso Moreira. O padre Moreira tinha 80 anos, estava em Angola há 55. Em 1960 foi para a missão do Bailundo e nunca mais de lá saiu. Viveu ali toda a guerra civil. Quem conhece o Bailundo pode avaliar como isso deve ter sido difícil. O Bailundo é uma pequena vila, num cruzamento de estradas. Serviu de quartel-general a Savimbi durante muitos anos, mas ao longo de toda a guerra civil o local foi tomado e reconquistado várias vezes pelos exércitos em conflito. Muitos fugiram, mas o velho padre sempre ficou ali, junto do povo. Morreu agora, baleado.
Logo a seguir, outra notícia devastadora. No Andulo, uma mina anti-carro matou duas pessoas e fez 28 feridos, seis dos quais com gravidade. O Andulo é um município da província do Bié, curiosamente não muito longe do Bailundo e, também, foi uma das praças-forte da UNITA. A mina rebentou junto a uma ponte sobre o rio Ambandi, a mais de 100 quilómetros de distância do Cuito.
Angola é um dos países mais minados do Mundo. O número estimado de minas ainda enterradas é de 8 milhões... Realmente, a guerra ainda continua.

4 comentários:

Isabela Figueiredo disse...

Não compreendo. Não posso compreender. Tudo isto me indigna. Sinto-me estúpida e impotente.

Anónimo disse...

na verdade os países africanos estão ainda em fase de maturação, o que é pena, mas o pensamento tem de mudar.

Anónimo disse...

Frequento este blogue desde o seu inicio, pelo interesse que me desperta a abordagem do C.N. à sua experiência enquanto jornalista, sobretudo quando nos retrata esse maravilhoso, mas ao mesmo tempo, tão desprezado continente africano onde nasci e que ainda hoje amo, apesar de já lá não ir, há 31 anos.
Com esta noticia, fico profundamente chocado. Nasci no Huambo (antiga Nova Lisboa) em 1964, embora tenha vivido ao longo de 11 anos, no Bailundo (antiga Vila Teixeira da Silva), até partir com a minha familia para Portugal, após a revolução de 1974. Recordo-me perfeitamente do Padre Moreira, pois frequentei enquanto miúdo, a catequese por si ministrada.
Ainda guardo na minha memória a sua imagem, de um homem de estatura frágil, longas barbas mas de uma coragem e bondade imensa. Um homem que apesar das agruras da guerra, nunca abandonou os seus fieis, o seu povo, vindo agora a morrer, de forma bárbara, num período que se julgava de Paz.
Estou desolado.
Que descanse em Paz!

Anónimo disse...

Andei por Angola de 2000 a 2002 como trabalhador humanitario, conheci o padre afonso numa das minhas muitas visitas ao hospital do bailundo para deixar feridos e doentes graves, uma pessoa extraordinaria.

Como ele conheci tambem duas irmas da missao catolica da cidade do songo, no norte de Angola, considero a sua coragem como eterna, a guerra passava e elas ficavam, SEMPRE.Fugiam militares, policias, Medicos sem fronteiras, Nacoes Unidas, mas elas ficavam SEMPRE.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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