Carta de um amigo (homónimo):
Carlos,
As minhas férias deste ano têm início na próxima sexta-feira e serão passadas bem longe de Portugal, por razões ponderosas (esta não é uma forma bonançosa de sugerir que as passarei no rancho da família Cartwright).
Na realidade, estou em fuga. E aproveito para comunicar esse facto a todas as autoridades interessadas. Podem facilmente interceptar esta comunicação.

Estou em fuga ao grande massacre. Não aguento mais "informação" sobre o mundial de futebol. Estou a ficar maluco com os fãs, as opiniões dos fãs, os
bitaites dos comentadores, dos treinadores, dos ex-jogadores, estou deseperado com o país de professores marcelos que de repente começou a atacar. Mais as "reportagens" sobre os casais do futebol e do
showbizz, as mulheres e namoradas dos craques, as ex-mulheres e as promitentes namoradas dos craques, as ex-mulheres e as ex-namoradas dos presidentes ou as ex-mulheres e ex-namoradas dos ex-presidentes.

E os anúncios da selecção, que já nos vende gás natural, gasolina e gasóleo, tudo de primeira, cervejas, iogurtes, contas bancárias e seguros, tudo do mais saudável que há, cadeias de supermercados e a Casa do Gil, tudo do melhor, como o "kunami" do Gato Fedorento, e até, o eterno
copyright da camisola do Eusébio-66, na versão "tenho-uma-lágrima-no-canto-do-olho". Mas muito mais há ainda para vender, incluindo a alma ao diabo. Até nos convencerem de vez, e sem margem para contraditório, que os portugas do país Scolari, de bandeirinha à janela, somos definitivamente os maiores.

Uma das sopinhas de letras "simple minded" das musiquetas nacionalistas que já se ouvem por todo o lado, garante mesmo que "nós unidos, jamais seremos vencidos".
Ora aí está um pensamento original e com bastas provas dadas. Capaz de legitimar a ideia de que "quer se possa ou se não possa, a vitória será nossa" ( tal como reza o hino do Sporting, o meu clube) .
A meu ver, este mundial é de todo desnecessário. Já ganhámos, já somos os gloriosos e imbatíveis campeões mundiais da futebolite parola. Por isso, não estarei cá para apoiar a enorme causa. Temos voluntários de sobra para gramarem o grande massacre.
Um abraço ! Até ao meu regresso !
Carlos