No jornalismo, principalmente em televisão, o termo
stringer designa o repórter irregular, uma espécie de
freelance. Os
stringers são, hoje, bastante usados pelas grandes cadeias de televisão, em locais perigosos e onde os estrangeiros têm dificuldades acrescidas para trabalhar.Numa conversa menos polida, diria que o
stringer é carne para canhão, é o tipo que vai lá custe o que custar, porque sem aquele boneco não ganha o dia.
No Iraque, por exemplo, a maioria dos jornalistas mortos ou feridos em reportagem têm sido
stringers. Quase todos iraquianos,
camera-men mais ou menos improvisados, que trabalham para a CNN, a BBC, a NBC, a CBS e todas as grandes
networks que tenham dinheiro para lhes pagar.
O problema dos
stringers é que são tipos sem deontologia profissional. São capazes de qualquer coisa para trazerem a tal história. Ética? Encolhem os ombros… São estes tipos quem, porventura, mais facilmente se conluiam com agências de informação e organizadores de espectáculos para
encenações como esta, para a qual
Sofocleto me chamou a atenção há uns dias.
Por outro lado, os
stringers locais tem muito mais facilidade em estar em determinados locais e em perceber o que se passa. Em países de línguas mais estranhas, eles falam a língua, conseguem ler jornais e perceber o que se diz na rádio, coisas que os estrangeiros dificilmente conseguem.

Utilizei
stringers duas vezes na vida, até hoje. A primeira vez foi na Guiné-Bissau. Rendo, aqui, homenagem a um homem chamado Néné Marcos Lopes, o tipo que filmou muitas das imagens gravadas durante combates ferozes do cerco de Bissau e que eu utilizei nas minhas reportagens. Néné era amigo do capitão
Bubo Na Tchuto, um dos comandantes do cerco, que liderava um pelotão entrincheirado na zona do poilão de Brá e que susteve alguns dos ataques mais violentos da tropa senegalesa que tentava quebrar o cerco à cidade. Essa amizade era a condição que lhe permitia estar lá. Por outro lado, Bubo não se preocupava muito se Néné podia levar um tiro e morrer. O mesmo não se passava quanto a nós. Se algum de nós levasse um tiro, ele poderia ter problemas com outros chefes militares e isso ele evitava. Por outro lado, Néné ajudava nos combates, enquanto filmava. Levava recados, transportava munições, era quase um combatente, coisa que nós jamais seríamos.
Compilei quatro cassetes de 30 minutos cada, cheias de imagens de Néné Marcos Lopes. Paguei-lhe 1500 dólares, mais do que ele ganharia a trabalhar durante um ano, mas menos do que ele merecia, concerteza.