Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Sarajevo, 1994 - Hollyday Inn

O Hollyday Inn era o único hotel possível. Visitei outros, mas tinham todos sido bombardeados, queimados, pilhados de tal modo que o room service seria abaixo de cão… No Hollyday Inn ficavam, de resto, todos os jornalistas enviados para Sarajevo.
Quando a lotação esgotava, os recepcionistas tinha um esquema bem montado para reenviar clientes para casas particulares. Mas o Hollyday Inn tinha a grande vantagem de estar na linha da frente. Localizado na margem direita do Rio Miljacka, ficava na fronteira entre o território controlado pelos bósnios muçulmanos e os sérvios que os cercavam. Esta localização privilegiada tinha, no entanto, alguns inconvenientes. Vou só relatar dois exemplos. Quando eu e o Vítor Caldas (camera-man) fizemos o check-in, fomos colocados no 12º andar… no último quarto vago. O 12 º piso era o último. Por cima havia, no entanto, um piso técnico, digamos assim, com arrecadações, os motores dos elevadores (que não funcionavam), depósitos de água, esse tipo de coisas. Numa dessas divisórias do piso técnico, “trabalhava” todas as noites um sniper… de modo que, nas primeiras noites, foi difícil conciliar o sono com o som dos disparos. Volta e meia, bang! Bang! Uma hora depois, bang! Bang! Chegámos a pensar em ir reclamar da má vizinhança, mas acabámos por nos habituar…
Outro inconveniente de estar muito próximo das linhas sérvias era que, o próprio hotel, era um alvo. Uma noite, à hora do jantar, que era servido numa sala do 1º andar com vista panorâmica para o rio, uma bala furou a vidraça e foi cravar-se na parede. Ninguém ouviu o disparo… apenas o tchuck! do projéctil a enfiar-se pela parede… num ápice, estavam mais de cem pessoas de joelhos, debaixo das mesas, num silêncio absoluto… até que alguém perguntou, em tom ansioso “is anybody hurt?...” e como ninguém gemeu… desatámos, todos, a rir de alívio… mas nunca mais o jantar foi ali servido.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já me aconteceu estar num primeiro andar, levantar-me da mesa da sala e ouvir um valente estilhaço: uma bola de golfe atravessou a janela e foi parar onde estava sentado.

Isto quando tiver de ser, terá de ser :-)
Abraço e Bom fds

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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