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Hakuna mkate kwa freaks.











segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Somália, acordo de paz

Os canais noticiosos trazem a boa nova de um acordo de paz assinado entre senhores da guerra somalis. A ser verdade… será o céu, para aquele povo desgraçado.
Segundo as agências noticiosas, os três principais líderes da Somália afirmaram hoje que chegaram a vários acordos para fazer regressar a vida institucional ao país e prometeram acabar com as disputas internas. Abdulahi Yusuf Ahmed (nomeado Presidente da República da Somália, em 2004) mais o seu aliado Ali Mohamed Ghedi (com as funções de Primeiro-Ministro) e o principal adversário de ambos Sharif Hassa, terão assinado um acordo de modo a implementar a normalidade institucional na Somália. Desde 1991 que não há governo no país. Após a queda de Mohamed Siad Barre, os vários clãs dedicaram-se a uma guerra fratricida que já destruiu tudo. Nem mesmo uma intervenção militar mandatada pelas Nações Unidas conseguiu apaziguar o país. Os americanos e outros países aliados acabaram por retirar da Somália, deixando toda a população à mercê dos sanguinários senhores da guerra e dos seus exércitos particulares.

2 comentários:

Diogo disse...

Mas será verdade?

De acordo com um antigo funcionário da CIA, Vince Cannistraro, a nova agenda de guerra de Rumsfeld inclui uma lista de dez países prioritários. A somar ao Irão, inclui a Síria, o Sudão, a Argélia, o Iémen e a Malásia. De acordo com uma notícia de 23 de Janeiro (2005) no Washington Post, o general Richard Myers, presidente dos Chefes dos Estados-Maiores, também tem uma lista daquilo que o Pentágono designa por 'alvos emergentes' para uma guerra preventiva, a qual inclui a Somália, o Iémen, a Indonésia e as Filipinas e a Geórgia, uma lista que ele enviou ao secretário Rumsfeld.

O que é flagrante é como esta lista de países 'alvos emergentes' dos Estados Unidos, 'postos avançados da tirania' coincide directamente com o objectivo estratégico da Administração pelo controlo global total da energia, o que é claramente o foco estratégico central da Administração Bush-Cheney.

A escolha de Washington da Somália e do Iémen é uma escolha emparelhada, como uma olhadela para um mapa do Médio Oriente/Corno de África pode confirmar. O Iémen situa-se no ponto de estrangulamento do tráfego petrolífero de Bab el-Mandeb, o ponto estreito que controla o escoamento do petróleo ligando o Mar Vermelho com o Oceano Indico. O Iémen também tem petróleo, embora ninguém ainda saiba bem quanto. Pode ser imenso. Uma firma americana, a Hunt Oil Co. está a extrair 200 mil barris por dia mas isto parece ser apenas a ponta do icebergue.

Fernando Ribeiro disse...

Prezado Carlos Narciso, a situação na Somália está por demais volátil para que se possa desde já encomendar os foguetes para a festa.

Para começar, já não há uma só Somália. Ela está partida em três estados, chamemos-lhes assim: além da Somália propriamente dita, que está limitada à parte sul do Corno de África e cuja capital é Mogadixo, existe a Somalilândia, que corresponde ao norte (junto a Djibuti) e que tem por capital Hargeysa, e Puntland que, para ser sincero, não lhe sei dizer ao certo onde fica (será na ponta do Corno?). Esta divisão corresponde às antigas colónias da Inglaterra e da Itália.

Nem a Somalilândia nem Puntland são reconhecidos por qualquer país, mas ambos juram permanecer independentes contra tudo e contra todos, recusando a reunificação com o resto da Somália. O aparecimento destes dois estados (não sei até que ponto é que é possível dar-lhes o nome de estados) teve a sua razão de ser nas rivalidades entre clãs e entre senhores da guerra, evidentemente, mas deve-se também ao facto de que os senhores da guerra de cada um dos dos dois territórios terem conseguido entender-se entre si, no sentido de estabelecerem um esboço de governo e de administração conjunta. Os senhores da guerra do sul da Somália, pelo contrário, nunca se entenderam até há pouco, nem entre si nem com os outros.

Ora as notícias que o amigo refere dizem respeito, portanto, ao sul da Somália apenas, ou seja, à parte que tem Mogadixo como capital. É evidente que os senhores da guerra do sul (agora metamorfoseados em ministros e deputados) têm a ambição de controlar também os outros dois territórios (no que contarão, talvez, com o apoio da comunidade internacional) mas, a menos que consigam acabar por entender-se com os seus "colegas", a coisa pode dar para o torto e acabar numa guerra civil mais clássica.

Apesar da ausência de qualquer tipo de administração, apesar da insegurança permanente, apesar das arbitrariedades e dos crimes diariamente cometidos pelos bandos armados (agora também já se dedicam à pirataria no Oceano Índico), a verdade é que os somalis do sul têm conseguido sobreviver, sabe Deus como.

O principal apoio com que eles têm contado é a numerosa diáspora (na Itália e nos Estados Unidos, sobretudo), que nunca deixou de enviar dinheiro para os seus familiares no país. Este dinheiro tem permitido a existência de uma economia informal, que funciona de tal maneira que, por exemplo, tanto em Mogadixo como em muitas outras cidades existem, não uma, mas várias redes de telemóveis a operar. Mais incrível ainda: apesar de não existir um banco central emissor, existe uma moeda local a circular, a qual é aceite pela generalidade da população. É caso único no mundo!

Ao contrário do que possa parecer, a Somália não regrediu à Idade da Pedra.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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